Crônica.

Romance? Não, muito complexo. Além do que eu não seria capaz de criar personagens coerentes e tampouco um enredo minimamente linear. Como se não bastasse o trabalho, o penar, a pesquisa que demanda um romance ao menos razoável. Não, romance não dá.

Poesia? Nem pensar, meu caro. Muita responsabilidade para um pobre coitado de vinte e poucos anos. Imagine só se numa entrevista de trabalho a pessoa do outro lado da mesa olha pra mim e pergunta assim, de bate-pronto:

- E escrever, você escreve bem?
- Sou poeta. - cravaria eu.
(Poeta, essa é boa! - pensaria o entrevistador quase sorrindo).
- E quais são suas referências nesse meio? - provocaria ele.
- Muitas. Gosto muito de Drummond, Fernando Pessoa e algumas coisas do Vinícius.

Não dá, jamais suportaria o peso de dizer que era influenciado por um Drummond. Correria o risco de fazê-lo se remexer em seu caixão depois de ver um poema meu. Muita responsabilidade esse negócio de poesia. Coisa chique. Pra poucos.

Conto também não é a minha. Nunca sei a hora de parar.

Dos mais familiares, então, só restou o mais leve dos gêneros, aquele que é amigo de todos, que todo mundo lê e ninguém se incomoda se tiver um pouco fora dos padrões, pois, como diria aquele escritor, não é um gênero maior, pessoal, não sejamos tão críticos. Na crônica eu discorro, corro o mundo sem olhar pra trás, olho o menino pela janela, olho pro céu, penso na namorada, na infância, no cheiro de terra molhada, no domingo de sol, no meu time de coração, na risada, na morte e até numa topada. Ponho tudo no liquidificador e, diferentemente dos outros gêneros, não me preocupo com o sabor que vai ter a mistura. O que sair tá bom.

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