O combustível da inspiração.

Quando me meto a escrever, quando me imponho a tarefa - às vezes árdua, porém sempre prazerosa ao final - de escrever, sinto uma necessidade imensa de estar em dia com uma leitura saudável, inteligente, da qual consiga extrair para meus inexperientes pensamentos algumas migalhas com as quais possa criar minha própria fantasia.

Agora, por exemplo, quase subitamente fui apanhado por uma vontade de sair escrevendo sobre coisas bonitas, humanas, realmente penetrantes, quis, enfim, escrever algo que, depois de concluído, me fizesse respirar calma e prazerosamente, me fizesse voltar a ler o texto como se nunca o tivesse visto antes, chegando à última linha dizendo: gostei. Assim, caso esse escrito tivesse me presenteado nessa agradável e solitária noite, ou, como diriam os mais críticos, caso tivesse eu a capacidade de dar forma a esse hipotético escrito, garanto que iria dormir com uma vaidade, com uma presunção, que só vendo para crer, meu amigo, só vendo.

Mas, como vinha dizendo antes desse leve devaneio, quando me surgiu há pouco essa vontade de escrever, percebi que, antes disso, estava precisando - tal qual um boêmio que precisa de um trago na sexta-feira de noite - de uma boa dosagem de leituras inteligentes, e foi aí que busquei algumas do Rubem Braga, outras do Paulo Mendes Campos, como se elas fossem me dar (como de fato dão!) a inspiração que faltava, o combustível necessário antes de qualquer produção, como se fosse eu um jogador de futebol que necessita do peso, do apoio que vêm das arquibancadas antes de entrar em campo num domingo de Fla x Flu. E foi assim que fiz. Li algumas coisas de um, algumas de outro, e fui em busca de acabar com o jogo, marcar três gols para o Flu e ir para o vestiário feliz da vida, com o troféu embaixo do braço e carregado pela galera. Mas não foi dessa vez. Quem sabe na próxima, depois de um combustível refinado como Mendes Campos e Cia, eu acerto em cheio com uma crônica bem bonita.

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