Um cafezinho.


Nessa semana, ao caminhar em mais uma agradável noite pelo campus da universidade, passei por um senhor que religiosamente faz e vende umas tapioquinhas aparentemente saborosíssimas e uns cafezinhos pra lá de perfumados. Perguntei-me se todos os dias, ao passar por seu humilde (mas digno) local de trabalho, aquele cheiro está impregnado nas redondezas e eu só o notei agora, depois de quase três anos de faculdade, ou se naquele dia seu café e sua tapioca foram feitos e servidos com um, digamos, toque especial. Mas não perguntei ao tal senhor, mantive-me calado e passei como que embevecido por aquele agradável e inconfundível cheiro que emanava do café, nesse caso acompanhado de uma tapioca que, via-se, estava ainda quente nas mãos dos clientes, que a assopravam e depois bebericavam um gole dessa bebida presente em tantas mesas ao redor do mundo, sejam elas luxuosas ou quase miseráveis, de granito nobre ou de restos de madeira lascada, e apreciada também nas mais distintas ocasiões, seja numa reunião milionária de negócios ou no pobre desjejum de milhões de brasileiros, prestes a serem lançados a mais um dia de duro trabalho. Feita essa descrição, podemos dizer então que os clientes do tal vendedor de cafés e tapiocas estavam a consumir uma bebida democrática. Realmente democrática, e note-se como um só adjetivo poderia ter dispensado várias linhas.

Quanto à questão inicial, aquela de se o cheiro está sempre lá ou se fui eu que atrasadamente o fui notar, acho que não importa mais. Sinceramente, a crônica acabou por tomar um outro rumo, seguiu seu próprio caminho e deixou de herança somente a imagem do café. Democrático café.

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