Querer não é escrever.


É bobagem imaginar, como eu acreditava até pouco tempo atrás, que quem escreve escreve somente o que lhe convém. Mentira, quem diz isso. Tudo bem, é claro que muitas vezes o camarada consegue sentar e dissecar o assunto que lhe der vontade, mas, hoje sei, nem sempre é assim. Se assim fosse, essas linhas, ao invés de estarem a afirmar todas essas frases cada vez mais repetitivas e cansadas de si mesmas, estariam, eu garanto, falando sobre este domingo lindo de sol, ou sobre o meu Fluzão que só me dá alegria. Mas não dá. Não consigo falar sobre esses temas. Se eu me metesse agora a falar do meu time, não conseguiria traduzir nem de longe a alegria de vê-lo jogar, de ver um Maracanã lotado por 60.000 vozes cantando sem parar. Se fosse falar do domingo de sol, não sei, acho que diria, com muito penar, "Hoje é domingo. E é de sol.". E pararia por aí, sem mais inspiração.

É mesmo duro saber que nem sempre a gente consegue escrever o que deseja, o que nossa cabeça quer, é como se tivesse um outro tema à frente desse que a gente quer mas não consegue relatar, e ainda chegamos pro teimoso e dizemos educadamente, eu já escrevi sobre você, cara, tá na hora de dar a vez ao próximo, vá atrás de apurrinhar outra pessoa, por favor. Mas ele continua lá, indiferente, sem dar vez ao Fluminense ou ao domingo de sol.

Respiro bem fundo... Olho pra ele e digo, fique aí, então. Já que não consigo falar do que quero, largo agora mesmo a caneta e espero você dar a vez. Não me desespero.


Frase do dia:
"Quem era aquela que te amou
no sonho, quando dormias?
Para onde vão as coisas do sonho?
Vão para o sonho dos outros?
E o pai que vive nos sonhos
volta a morrer quando despertas?
Florescem as plantas do sonho
e amadurecem seus frutos?"
Pablo Neruda

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