22 homens e uma bola


O futebol é um negócio meio inexplicável. Quando alguém - algum desses infelizes que nunca sentiram o prazer de torcer pra algum time - diz a típica frase, "Não vejo graça nenhuma em 22 jogadores correndo atrás de uma bola.", até me questiono como é que pode alguém de mente, digamos, razoavelmente equilibrada, sentir tanta emoção ao ver sua equipe em campo. Porque, se formos parar pra pensar, o que se enxerga, o que está ali, à frente de nossos olhos, é isto mesmo: uma bola e 22 marmanjos, onze de cada lado, brigando por ela. Mas sabe o que penso logo em seguida? Pois que seja, então.

Pra mim, o futebol é um dos pouquíssimos assuntos que ainda me entusiasmam numa conversa. É, de verdade, uma das poucas coisas que me fazem sair do meu modo contido, lacônico, pra de repente me ver empolgado, discorrendo sobre o tema, argumentando e ouvindo com a máxima atenção o que o outro diz; sentindo-me efemeramente feliz. Posso seguramente (e desde que com alguém também entendido no assunto) passar horas a fio falando sobre o mundo da bola, e ainda assim sentir o sangue correr cada vez mais quente em minhas veias.

Pode a casa cair, meu amigo, mas há dois dias em que, durante mais ou menos duas horas, eu (e mais uma multidão de malucos, alienados estúpidos e o que mais quiserem chamar) estou completamente ocupado, desligado de qualquer outro compromisso não relacionado à bola: quarta e domingo, quando rola a pelota.

Ache bobagem quem quiser, mas não troco por nada neste mundo a emoção que senti na última quarta-feira, num jogo do meu Fluzão como não via há muito tempo. Uma virada suada, pra lá dos quarenta do segundo tempo, num jogo de vida ou morte para o time (e para todos os torcedores, claro).

Mas pra falar a verdade, mesmo com toda a emoção da partida, acho que eu não teria feito esta crônica, não fosse uma imagem captada no fim da transmissão: um casal de velhinhos abraçados, numa parte vazia da arquibancada. O velhinho chorava de alegria; e a senhora, de costas para a câmera, não mostrava seu rosto feliz (ou pela vitória, ou pela simples alegria do marido). Uma cena linda, fruto do futebol. Ou, para quem ainda preferir, fruto de uma bola e 22 homens brigando por ela.


Frase do dia:
"Quem sabe Deus queira que conheças muita gente enganada antes de que conheças a pessoa adequada, para que, quando no fim a conheças, saibas estar agradecido."
Gabriel García Marquéz

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