A vida dos outros


Quem não viu, veja. Mas veja mesmo, ligue logo pra locadora e pergunte se eles têm disponível. Porém, se não tiverem, não se desespere, minha tia-amiga Bernadete, que felizmente passou o fim de semana aqui em casa, trouxe clandestinamente uma versão pirata – de muito boa qualidade, impecável – do DVD, que eu, terminado o filme, corri pra também piratear (essa minha confissão constitui um crime? Já me coloca sob a mira da Polícia Federal? Se sim, defendo-me desde já: fiz isso unicamente em nome da arte, juro). Pois bem, como dizia, caso não encontre por aí, pode me pedir que eu também pirateio um pra você (e com essa afirmação, agravo em quantos anos minha pena? Pois me defendo uma vez mais: caso alguém me peça, farei isso gratuitamente, tudo em nome de um propósito humano e generoso – a divulgação da sétima arte, quase como um Robin Hood da pirataria cearense).

Ah, sim, o nome do filme: A vida dos outros, um filme alemão de 2006.

Mas deixemos as brincadeiras à parte – o filme não é uma comédia, pelo contrário, é um drama de encher os olhos.

Há outros fatos do enredo sobre os quais eu poderia falar, mas vou me ater somente aos dois que mais me sensibilizaram.

Um é a rara humildade que algumas pessoas conseguem ter, a ponto de jogarem na cesta do lixo suas antigas opiniões, tudo em prol de uma concepção, de um ideal que repentinamente lhes pareceu mais digno. Parece simples, mas não é. Mudar de opinião, abandonar seus inabaláveis conceitos (e pré-conceitos) tão bem construídos, tão bem-alicerçados durante uma vida inteira é algo digno de nota.

E outro tema que também me tocou, este inclusive me parece ainda mais raro em nosso mundo, diz respeito às pessoas que passam a fazer um bem sem querer nada, literalmente nada em troca – exceto a consciência tranquila por terem agido conforme sua crença, conforme sua convicção. Ambas as situações são incorporadas, vividas pelo personagem Gerd Wiesler (interpretado por Ulrith Mühe).

Quem não viu, veja. Quem quer ver e não encontra, já sabe, pode me pedir – mas sem alarde, por favor.


Frase do dia:
"Algumas nem me conhececiam direito, mas vieram mesmo assim. Por quê? Você já pensou nisto alguma vez? Por que as pessoas se reúnem quando outra morre? Por que elas sentem que devem fazê-lo? É porque o espírito humano sabe, lá no fundo, que todas as vidas se entrecruzam. Que a morte não leva uma pessoa simplesmente, ela também deixa de levar uma outra, e na pequena distância que há entre ser levado e ser deixado as vidas se modificam. Você diz que devia ter morrido no meu lugar. Mas, durante o meu tempo na Terra, outras pessoas morreram em meu lugar. Acontece todo dia. Quando cai um raio minutos depois que você saiu de um certo lugar, ou quando despenca um avião em que você poderia estar viajando. Quando seu colega cai doente e você não. Nós achamos que essas coisas acontecem ao acaso. Mas existe um equilíbrio em tudo isso. Um murcha, outro floresce. Nascimento e morte fazem parte de um todo. É por isso que nos sentimos atraídos por bebês... – Ele se virou na direção das pessoas presentes ao funeral – E por enterros."
Mitch Albom

Comentários

  1. (...)Mas veja mesmo, ligue logo pra locadora e pergunte se eles têm disponível.(...)
    Nobre cronista, já se pode baixar filmes pelo computador...

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