O novo mundo


Lá estávamos nós: Gabriel, Chico e eu conversando em mais uma tranquila volta da faculdade, ali pelas dez da noite. O papo, dessa vez, excepcionalmente, não era o sagrado futebol.

Falávamos sobre esse consumismo voraz que move nossa sociedade. Essa necessidade de comprar: sorrateira, dissimulada mas eficaz, a qual o mundo consegue nos empurrar goela abaixo. Lembrávamos, num tom tão leve quanto o vento sereno que sempre invade o carro nesse trajeto que há quase cinco anos fazemos, a velocidade com que as coisas (computadores, celulares, carros, tudo) caem na obsolescência.

Assim, pesquisando sobre o tema, descobri no Youtube um vídeo pra lá de interessante: A história das coisas. Talvez pelo fato de a produtora ser norte-americana, há um enfoque maior no padrão de consumo específico dos Estados Unidos – o que, obviamente, só torna os dados ainda mais alarmantes.

Segure-se na cadeira, aí vão alguns desses números.

Os Estados Unidos detêm mais ou menos 5% da população mundial; no entanto, utilizam 30% dos recursos disponíveis no planeta. Na Amazônia, 2000 árvores (ou um campo oficial de futebol) são desmatadas por minuto, tudo pra, no fim das contas, alimentar a fome de consumo que grita em nossos estômagos. Só 1% das coisas que são consumidas pelos norte-americanos não vira lixo depois de seis meses. Hoje, em um ano, uma pessoa nascida na Terra do Tio Sam é bombardeada com mais publicidade do que um conterrâneo, há 50 anos, via durante toda a vida – são mais ou menos três mil anúncios devidamente diluídos, por dia, na rotina do cidadão norte-americano atual. Se todos consumissem no "padrão U.S.A.", nós precisaríamos, no que diz respeito à disponibilidade de recursos, de três a cinco planetas Terra, quando na verdade, não custa nada lembrar, só temos um. E por fim mas não menos importante, somente nas últimas três décadas, devoramos 33% dos recursos disponíveis no mundo.

E aí até cabe uma pergunta: mas provavelmente, com uma sociedade que pode consumir tanto, os Estados Unidos devem ser um país de gente feliz, não é? Não, não é. Segundo pesquisas realizadas por lá, o povo, desde 1950, tem se dito cada vez mais triste.

Pra que tanto? Por que sempre mais e mais e mais? São perguntas cujas respostas temo nunca chegar a conhecer.

Mas talvez o mundo, um dia, comece a perceber que caminhou veloz durante uma larga jornada, porém na direção errada. Então, como que despertados de um longo sonho que de súbito se mostrou pesadelo, a geração que por aqui estiver levantará assustada da cama e dirá: basta.

Nesse dia, quando nem eu, nem você estaremos mais por aqui, abrirei, de onde quer que esteja, um sorriso pleno, olhos marejados, e só lamentarei minha impossibilidade de escrever uma crônica simples – o relato do dia em que o mundo decidiu ser melhor.


Frase do dia:
"Costuma-se dizer, Dêmos tempo ao tempo, mas aquilo que sempre nos esquecemos de perguntar é se haverá tempo para dar."
José Saramago

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