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Mostrando postagens de dezembro, 2009

Crônica.

Romance? Não, muito complexo. Além do que eu não seria capaz de criar personagens coerentes e tampouco um enredo minimamente linear. Como se não bastasse o trabalho, o penar, a pesquisa que demanda um romance ao menos razoável. Não, romance não dá. Poesia? Nem pensar, meu caro. Muita responsabilidade para um pobre coitado de vinte e poucos anos. Imagine só se numa entrevista de trabalho a pessoa do outro lado da mesa olha pra mim e pergunta assim, de bate-pronto: - E escrever, você escreve bem? - Sou poeta. - cravaria eu. (Poeta, essa é boa! - pensaria o entrevistador quase sorrindo). - E quais são suas referências nesse meio? - provocaria ele. - Muitas. Gosto muito de Drummond, Fernando Pessoa e algumas coisas do Vinícius. Não dá, jamais suportaria o peso de dizer que era influenciado por um Drummond. Correria o risco de fazê-lo se remexer em seu caixão depois de ver um poema meu. Muita responsabilidade esse negócio de poesia. Coisa chique. Pra poucos. Conto também não é a minha. Nunc

De camisa abotoada.

Saio do escritório ao meio-dia, meio-dia e pouco, quando reparo em um senhor que tenta aparentemente com todas as sua forças continuar uma caminhada que já pede urgentemente um descanso. É um idoso velhinho, desculpando o pleonasmo, que acaba de levantar seu braço direito e o pôr no muro ao lado, como meio de se sustentar. Vejo que esse braço treme, treme muito. O pobrezinho não está bem. Vou até lá, chego mais perto, pergunto estupidamente como ele está, e ele me responde somente um dificultoso "Meio tonto...". Pergunto-lhe se quer sentar, ao que me responde que vai sentar sim, mas o impeço que sente naquela calçada quente e de pedras pontiagudas e o levo ao escritório, que está a uns dez metros de onde estávamos. Sentado lá, peço à secretária um pouco de água, e ela traz gentilmente dois copos. O senhor, cujo nome poderia ter perguntado, mas não perguntei, pois sabia que o nome não importava naquele momento, mal consegue segurar o copo d'água, segura-o com as duas mãos