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Últimos cantos

Sentou-se à mesa quando a noite já encobrira toda a casa. Era uma casa muito só. Feita como para lembrar que o destino daquela família seria sempre a solidão. Festas, amores, amigos, sempre tão abundantes, não apagavam, antes reforçavam, pelo avesso, o destino solitário daquela gente. Talvez, desconfiava ele, apenas a solidão enformasse uma família, dando-lhe a substância necessária à sua própria identificação: é a solidão que nos conjunta — intuía ele, sem precisão de palavra, como se só alcançasse o rumo da ideia. Aquela casa não tinha data e por isso mesmo contava uma história. Estando os vizinhos a mais que três gritos de distância, as noites perfaziam sempre um ritual: era o mundo que se enlutava, deixando só a luz da família-casa a lembrar que ali ainda passava gente, ainda se aquecia uma esperança. Toda noite chegando era o dia recuando com seus bichos alegres que só retornariam quando o mundo clareasse uma vez mais, se deus quiser. Este espetáculo, tão previsível, ganh