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Mostrando postagens de outubro, 2011

Desarmados almados

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Por esses dias, estudando sobre o roteiro de uma viagem que pretendo fazer em breve, descobri um fato louvável, digno de nota: a Costa Rica não possui exército desde 1948. Foi o primeiro país a simplesmente optar por abrir mão de seu poder de fogo, decisão que a meu ver se torna ainda mais nobre se levarmos em consideração a época em que o país fez essa escolha, afinal, nesse período o mundo ainda colhia os cacos da Segunda Grande Guerra, e por isso praticamente todas as nações se mantinham de olhos abertos, tensas, assustadas quanto a futuros conflitos que poderiam acontecer. Assim, nessa época, enquanto boa parte dos Estados se dava conta da necessidade de se ter um exército poderoso e armas que impusessem respeito, a Costa Rica, um país pequenininho, do tamanho do Rio Grande do Norte, olhou pro planeta e falou com voz de quem é gigante: nós não queremos pactuar com esse ideal estúpido, ilógico, não queremos fomentar um mundo que tem medo das próprias armas – nós não temos mais

Únicos, pelo que colhemos

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Aqui acolá a gente ouve alguém lançando esta frase, muitas vezes na tentativa de levantar o astral de quem anda meio de baixa: você é único! Somos únicos, será? Concordo que cada um carrega consigo sua unicidade, ainda que reconhecer com precisão onde está a singularidade de alguém seja das tarefas mais difíceis. Pode estar no jeito tímido e verdadeiro de sorrir, no olhar brilhante que fala por si ou mesmo na fala engraçada e naturalmente acelerada que faz vibrar quem está por ali. O certo é que há, sim, em cada um, algo que é só seu – você é único. Mas o que poucas vezes paramos pra pensar é que nossa singularidade na verdade resulta de uma soma caótica, quase indecifrável de tudo aquilo que colhemos durante nossa vida. Porque sinceramente não acredito muito neste negócio de que já nascemos com aquilo que nos fará exclusivos. Não duvido do poder da genética, pelo contrário, tanto que vou aproveitar pra contar uma história recente, que muito me impressionou: um dos

Gente boa ≠ boa gente

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Certa vez me contaram esta história. Boba, sim, mas verdadeiríssima. "Uma pessoa gente boa nem sempre é uma pessoa boa gente." O gente boa pode ser – estou só dizendo que pode ser – aquele cara que aperta a sua mão e pergunta como você tá, mas que na verdade não quer saber se você vai mesmo bem. Já o boa gente pergunta se tá tudo bem e se certifica da resposta: olha no seu olho, procura a sinceridade no seu sorriso, pergunta se você resolveu aquele problema lá no trabalho, ou em casa, ou no relacionamento. Ele quer de fato saber "como vai você", já dizia Roberto Carlos. O gente boa eventualmente é aquele que entende de política e se revolta com a corrupção no País, mas sorri faceiro quando consegue subornar o guarda que lhe multaria ou quando se aproveita de uma brecha pra sonegar um impostozinho (pra que pagar imposto, se ninguém faz nada mesmo?). O boa gente pode até não andar com roupa de grife, mas faz de tudo pra pagar suas contas rigorosamente

Fábio

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Ele está sempre ali, porque ali é seu lugar: Silva Paulet quase esquina com Santos Dumont. Era sempre o mesmo problema: toda vez que eu tinha de ir ao banco, que fica exatamente nessa esquina citada no primeiro parágrafo, não havia lugar pra estacionar. Tinha de parar a várias quadras de distância ou desistir e ir a uma agência bem mais longe. Pois foi num desses dias, já há alguns anos, que ele apareceu em minha vida. Eu estava dirigindo devagar, à procura da bendita vaga, quando ele surgiu, agitadíssimo, erguendo os braços como se tivesse acabado de avistar uma tonelada de ouro maciço brotando daquele asfalto quente – mas só estava me avisando que achara um lugar onde eu parar. Desci do carro, cumprimentei-o brevemente e fui resolver sei lá o quê na agência. Ao voltar, perguntei se ele estava sempre por ali, ao que ele disse que todo dia, o dia todo. Dei-lhe uns trocados e me mandei. Nas duas ou três vezes seguintes em que fui ao banco (nessa época eu ia várias ve

Dia das crianças

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O dia das crianças tá chegando. Não que eu ache a data importante, claro que não. Vejo simplesmente como mais uma que o comércio criou pra gente ir lá e comprar, comprar e comprar – êta verbozinho pra não sair de moda. Mas dá pra aproveitar o 12 de outubro e fazer uma crônica. Um dia desses minha mãe disse que uma pessoa do trabalho dela estava juntando umas roupas pra fazer uma doação a alguma dessas louváveis instituições que ajudam crianças carentes. Minha mãe perguntou se servia roupa de adulto, ao que a sua colega respondeu que sim, claro que sim, afinal, filhos carentes quase sempre têm pais também carentes, que precisam igualmente de ajuda. Então aceitei prontamente o pedido da dona Zuleide e lá fui eu fazer uma limpa no meu guarda-roupa. Sou um cara extremamente apegado às coisas (o que não faz de mim uma pessoa consumista, são características bem distintas). Quero dizer apegado no sentido de que não gosto de me livrar de certos pertences: uma medalha ganha no ca

Sim, era ele

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Foi nessa semana que passou. Tinha de ir lá resolver um negócio de trabalho. Assim, manejando sem pressa, ali pelas dez da manhã em mais um belíssimo dia de sol em Fortaleza, tomei a Desembargador Moreira, avenida que me conduziria até lá – até a Beira-Mar. Num determinado ponto, então, já me aproximando do calçadão por que diariamente passam centenas de turistas, além de fortalezenses dispostos a uma saudável caminhada, avistei-o. Sim, era ele, não havia dúvidas. Fazia tempo que não o via, ou melhor, que não o via assim mais atentamente, sob um olhar mais abrandado. Estava lindo como sempre, mas me pareceu ainda mais gracioso, como uma mulher que, além de bela por natureza, faz questão de retocar sutilmente a maquiagem e de pôr um vestido discreto mas de cortes perfeitos a moldar-lhe o corpo, tornando sublime o que já bastava enquanto natural. Assim estava ele, nesse dia: se empavoando de toda a sua já costumeira beleza. Mas era verde ou azul? Impossível afirmar. Certa