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Mostrando postagens de 2009

Crônica.

Romance? Não, muito complexo. Além do que eu não seria capaz de criar personagens coerentes e tampouco um enredo minimamente linear. Como se não bastasse o trabalho, o penar, a pesquisa que demanda um romance ao menos razoável. Não, romance não dá. Poesia? Nem pensar, meu caro. Muita responsabilidade para um pobre coitado de vinte e poucos anos. Imagine só se numa entrevista de trabalho a pessoa do outro lado da mesa olha pra mim e pergunta assim, de bate-pronto: - E escrever, você escreve bem? - Sou poeta. - cravaria eu. (Poeta, essa é boa! - pensaria o entrevistador quase sorrindo). - E quais são suas referências nesse meio? - provocaria ele. - Muitas. Gosto muito de Drummond, Fernando Pessoa e algumas coisas do Vinícius. Não dá, jamais suportaria o peso de dizer que era influenciado por um Drummond. Correria o risco de fazê-lo se remexer em seu caixão depois de ver um poema meu. Muita responsabilidade esse negócio de poesia. Coisa chique. Pra poucos. Conto também não é a minha. Nunc

De camisa abotoada.

Saio do escritório ao meio-dia, meio-dia e pouco, quando reparo em um senhor que tenta aparentemente com todas as sua forças continuar uma caminhada que já pede urgentemente um descanso. É um idoso velhinho, desculpando o pleonasmo, que acaba de levantar seu braço direito e o pôr no muro ao lado, como meio de se sustentar. Vejo que esse braço treme, treme muito. O pobrezinho não está bem. Vou até lá, chego mais perto, pergunto estupidamente como ele está, e ele me responde somente um dificultoso "Meio tonto...". Pergunto-lhe se quer sentar, ao que me responde que vai sentar sim, mas o impeço que sente naquela calçada quente e de pedras pontiagudas e o levo ao escritório, que está a uns dez metros de onde estávamos. Sentado lá, peço à secretária um pouco de água, e ela traz gentilmente dois copos. O senhor, cujo nome poderia ter perguntado, mas não perguntei, pois sabia que o nome não importava naquele momento, mal consegue segurar o copo d'água, segura-o com as duas mãos

Uma última (linda) frase.

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Parece de filme, mas não é. Há algumas semanas despediu-se destes terrenos um senhor conhecido meu, de quem muito bem - enquanto vivo - ouvi falar, detalhe este importante, a meu ver. E o que me traz aqui, a discorrer sobre o que aparenta ser mais uma vítima de um fulminante ataque cardíaco, não é outra coisa senão sua última frase, dita à sua esposa na manhã do fatídico dia, depois de terem dormido separadamente, ela cama, ele na rede. "Que desperdício, poderíamos ter passado a noite juntos." Despediu-se assim, sem uma grande frase de efeito, como eu te amo, me perdoe por meus erros meu amor, ou coisa parecida. Soltou essas despretenciosas palavras somente, como se dali a pouco fosse sair para comprar o pão ou buscar as correspondências. A esposa deve ter sorrido, beijado sua face ou simplesmente concordado com um aceno de cabeça e ido, como de fato foi, tomar seu primeiro banho do dia. Pois que, ao voltar, de banho tomado, se deu conta de que aquela havia sido uma despedida

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Um pensamento vagueia Divaga sem direção Vai caminhando sem rumo Arando em um coração Nesse cenário dos deuses Ecoa como um jargão Não cabe mais no peito Me acertou, na contramão Continue divagando Não pare, vá devagar Fazendo novelos em mim Não sei aonde vai parar Mas sei que tem gente por aqui Feliz com o divagar (À Fabiana. Escrito em 12.08.2008. No velho caderno.)

Vida às palavras.

Não é de hoje que carrego a vontade de dar vazão a algumas palavras que permaneciam, até então, guardadas em um caderno velho, meio escondido diga-se de passagem, esperando que talvez a empregada o jogasse fora ao encontrá-lo meio empoeirado, cheio de poemas pela metade, textos inacabados, extrações de grandes autores, tudo desorganizado, ora de lápis, ora de caneta, risca pra lá, rabisca pra cá, dando a entender que o lugar mais propício para aquele relicário deveria ser mesmo a lixeira mais próxima. Pois eis que nesses dias, depois de ler uma crônica do Fernando Sabino (a qual em nada se relaciona com o que venho dizendo), tomei coragem, fui lá e ressucitei o tal caderno. Então, agora de posse de meu amuleto, crio este blog, que certamente a empregada não saberá jogar na lixeira. Mas, como vinha dizendo antes da história do caderno, já há alguns anos penso em escrever de forma mais regular, pincipalmente depois dos incentivos de minha namorada, de minha irmã e, indiretamente, d