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Mostrando postagens de julho, 2016

Uma despedida

Saí de sua casa com a angustiada sensação de que me despedira, ali, dela. Estranho, ilógico ter de dizer adeus a alguém ainda com vida — se ainda há vida, por que não conseguimos reter um tantinho dela, assim pra sempre? Ou, pergunta mais complexa: continua havendo vida (na gente que fica) quando não tem mais vida (aquele que se vai)? Isso que persiste e dói na lembrança da gente que fica — é vida ainda? Saí então de sua casa com olhos marejados, de adeus. Ela já tinha quase noventa, e eu, que estivera ali por uma combinação feliz de acasos, sabia que provavelmente não voltaria a vê-la. Minha intuição se fez verdade em menos tempo do que imaginava: poucas semanas depois de ter-lhe feito essa visita, ela... se fez fina música, diria Guimarães Rosa. Foi bom ter estado com ela aquele dia. Não tínhamos muito mais que conversar, ou talvez eu tenha percebido, ali, que não havia razões para fingir que aquilo não era uma espécie de despedida. Não valia a pena então investir demai