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Mostrando postagens de maio, 2011

Atitude de primeira classe

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Não sou muito de me emocionar com as coisas que acontecem no mundo. Não que eu seja um cara insensível, nada disso. O que acontece é que as notícias me soam tão iguais que o Jornal Nacional chega a parecer até novela mexicana, tamanha previsibilidade (na verdade, com todo o respeito à Fátima Bernardes e seu tradicional "boa noite", acho que até prefiro aquela típica novelinha mal dublada; pelo menos não se vê tanta desgraça, e o final é bem feliz). Mas o certo é que um dia desses li algo que sinceramente me tocou. Aconteceu num voo da TAM. Devo admitir, antes de mais nada, que na realidade nem sei se o fato aconteceu mesmo – li a história no Facebook como um simples relato de alguém, de modo que a notícia, pra utilizar uma expressão bem formal, carece de fontes. Mas vamos ao fato, potencialmente verídico. Uma mulher, ao entrar na aeronave e encontrar a poltrona que lhe fora destinada, se viu incomodada com uma situação (calma, caro leitor, ainda falarei que bendita situa

Olhemos pro céu

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Triste do homem que não olha mais pro céu; que passa o dia entretido, arrebatado por esse mundo quadriculado e sem sentido que nós criamos – mundo de gente que não olha mais pro céu. A vida seria - ah, como seria! - suave como o desmanchar de um algodão-doce na boca de uma criança se todos, mas todos mesmo, prometêssemos em algum momento, do amanhecer à hora de dormir, tirar os olhos de todo esse conjunto caótico de sons e imagens que urbanizam - digo, infernizam - as grandes cidades, só pra mirar o céu; silenciosamente, se não for pedir demais. Pela manhã, ainda cedinho, observar por poucos mas densos segundos a tonalidade daquele azul vivo, eterno, que banha de ponta a ponta e num mesmo discreto tom toda a extensão desse teto meio oval que nos comporta. Examinar se há nuvens. Se não houver, aprazerar-se ligeiramente com o céu limpo, nu – como veio ao mundo. Sentir invadir-se pela energia serena, tímida, que exala de lá de cima, nos dando força para um novo dia. Se houver nuvens, no

Um David acima da asa delta

Voar de asa delta foi das experiências mais inusitadas, emocionantes que tive nos últimos tempos. Andava inclusive meio desinteressado pela escrita, meio a fim mesmo de dar um tempo dessa tarefa que - embora por vezes me console, preencha - exige muito de mim. Até me sufoca, como se houvesse, a partir do momento em que aqui me sento - frente a frente com mais uma página em branco à minha espera -, um chefe daqueles bem chatos gritando no meu pé do ouvido, me pressionando por resultados melhores. Mas a asa delta!, voltemos à asa delta. Sempre quis experimentar a sensação de adrenalina que todos diziam existir (e de fato existe) no voo livre, em especial o dessa modalidade. Então pensei em realizar esse desejo e, de quebra, viver uma experiência a tal ponto interessante que me devolvesse a motivação de escrever que, como disse acima, andava meio de baixa. A experiência é realmente única: a adrenalina invadindo seu corpo; a percepção viva de se estar voando; e a compreensão sentida n

E se você fosse a mãe?

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Amanhã é dia das mães. Não que eu baseie meu calendário nessas datas das quais vive o comércio, mas, como achei a história bonita e já pensava em escrever sobre ela, aproveito o ensejo pra homenagear as mamães por aí. Quem me contou o acontecido foi a Bernadete, minha amiga que também é minha tia e que, além disso, gosta de ler o que escrevo (de onde concluo instantaneamente que ela só pode ser desparafusada que nem o sobrinho). Sem mais preâmbulos, vamos ao fato, antes que o leitor desista e vá embora: duas mulheres (conhecidas da Berna) tiveram filhos que nasceram com uma doença muito grave no coração, de modo que, logo no nascimento, elas foram informadas de que os bebês não viveriam mais que uma semana, talvez alguns dias além disso. Ao receberem a triste notícia, então, as duas mães - que, só por curiosidade, não se conhecem - tomaram atitudes bem distintas. Uma, não suportando a dor de ter um filho que morreria logo mais, deixou-o sob os cuidados da avó (do recém-nascido), e quas

O olhar

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Num sábado de manhã, um olhar frio que mira o mar. Pés na areia, coração enterrado, há alguém frente a frente com o mar; como num desafio, só que mudo. Ao redor, embora resida no mar o último fio de esperança no qual se prende a vida, imagens e sons diversos distraem vez por outra aquele espetáculo que, este sim, interessa: o olhar que mira o mar. Vez por outra o homem vacila, perde o foco, cava com os pés, de cabeça quase imperceptivelmente baixa, alguns buracos na areia. A seguir, soergue-a mais uma vez, tão levemente que parece até algum deus levantando-lhe o queixo com dedos delicados, até pôr sua cabeça novamente num ângulo raso com o mar, oh mar! Ninguém o observa, mas sua imagem encandeia; ninguém o escuta, mas ele grita pro mundo inteiro ouvir; ninguém lhe acode, mas ele pede socorro. O homem se levanta, vai-se embora escrever uma crônica, pra ninguém ler e o mundo continuar, indiferente. Frase do dia: "(...) no momento em que aceitarmos finalmente as nossas diferenças, se