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Mostrando postagens de 2013

Da vida que cria faltas ou das faltas que criam a vida

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Algumas poucas leituras teóricas sobre o assunto, outros tantos momentos observando as pessoas com que convivo e um olhar que, às vezes espinhosamente, forço que se volte pra dentro, pro eu: eis as razões do que me faz cada vez mais nos últimos tempos concluir   – somos todos movidos pela falta.  É a falta que nos move, a mim, a você, ao seu vizinho, ao motorista do ônibus. Mas falta do quê, alguém há de perguntar. De dinheiro, de amor, de saúde, de paz? Ou, mais concretamente, de uma casa própria, de um emprego que satisfaça, de um celular de última geração? Sim, todas são possibilidades, mas não precisamos estabelecê-las nesse momento, aliás é até melhor que não as especifiquemos agora: são muitas as faltas, muitas as gentes e, em cada gente, quantas faltas? Não entremos nesse mérito, atentemos apenas para um fato: há uma casa vazia em cada um de nós. E é exatamente essa lacuna que nos faz agir, mover, buscar: é assim que de repente vejo que a vida, sob determinado ponto de vi

Nosso descompassado ser

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Dizem que sou uma pessoa calma, serena, pacífica, e acabo por não ter como negar: de fato,  pareço  calmo, sereno, pacífico. Esse é o meu parecer. Se falo, c ostumo procurar as palavras mais moderadas, menos agressivas, fujo dos olhares agudos, das exclamações cheias de vida, das opiniões mais radicais. Opto quase sempre por   caminhos que tenham uma cor morta  – bege?  –  equilibrada e contida. De tanto parecer assim, as pessoas acabam por não ter dúvidas: olha lá o bege passando. Mas as pessoas, que culpa elas têm, afinal? Como poderiam inferir outro conceito de mim senão esse? Se elas só têm acesso, ou melhor, se eu só lhes dou acesso a essa parcela de minha realidade, como posso eu me queixar de ser isso a seus olhos? Ora, a nossa essência é uma instância para sempre perdida e nós, queiramos ou  não, acabamos sendo apenas aquilo que... parecemos ser. Que me entendam: quando digo que somos aquilo que parecemos ser, não me refiro apenas às roupas que vestimos e afins. Refiro-m

Do que é, ou poderia ser, luxuoso

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A linguagem é um fascínio: as palavras, cujos significados julgamos conhecer inteiramente, pouco a pouco vão se cambiando, se metamorfoseando, como numa dança lenta quase imperceptível aos olhos menos atentos  –   sorrateiras, elas vão incorporando significados outros, de modo que dialogar, argumentar nem sempre são tarefas simples: a outra pessoa apreenderá exatamente o que queríamos dizer? Perceberá quais significados estão por detrás dos itens lexicais que ingenuamente convocamos à nossa fala? Falar é também se arriscar. Mas isso é conversa pra outro dia. Nessa semana, na defesa da dissertação de mestrado de meu irmão, vi um dos professores que compunham a banca falar, em meio a tantos outros assuntos interessantes, sobre uma palavrinha aparentemente boba, cujo significado parece estar se multiplicando nos últimos tempos, a propósito do que disse eu no primeiro parágrafo. Luxo . Há não muitos anos, se ouvíssemos tal palavra, penso que seríamos levados a pensar somente em p