Desarmados almados

Por esses dias, estudando sobre o roteiro de uma viagem que pretendo fazer em breve, descobri um fato louvável, digno de nota: a Costa Rica não possui exército desde 1948. Foi o primeiro país a simplesmente optar por abrir mão de seu poder de fogo, decisão que a meu ver se torna ainda mais nobre se levarmos em consideração a época em que o país fez essa escolha, afinal, nesse período o mundo ainda colhia os cacos da Segunda Grande Guerra, e por isso praticamente todas as nações se mantinham de olhos abertos, tensas, assustadas quanto a futuros conflitos que poderiam acontecer.

Assim, nessa época, enquanto boa parte dos Estados se dava conta da necessidade de se ter um exército poderoso e armas que impusessem respeito, a Costa Rica, um país pequenininho, do tamanho do Rio Grande do Norte, olhou pro planeta e falou com voz de quem é gigante: nós não queremos pactuar com esse ideal estúpido, ilógico, não queremos fomentar um mundo que tem medo das próprias armas – nós não temos mais armas.

Ao saber disso, fiquei por ali com meus botões pensando ingenuamente num mundo que seguisse esse ideal costa-riquenho: um planeta sem exércitos, sem armas, sem punhos fechados, um mundo de guarda sempre baixa (pra que manter a guarda alta, se não haveria mais com que lutar?). Me lembrei dos Estados Unidos e de todo o seu arsenal impondo medo, ordem, superioridade. Me lembrei da busca incessante de muitos governos por uma tal bomba nuclear, e tentei com todas as minhas forças entender qual o propósito de se produzir um instrumento cuja eficácia – vejam que contradição – consiste exatamente no que deveria ser considerado seu maior fracasso: destruição, imposição pelo medo, arruinamento, extermínio.

Assim, adentrando por esse labirinto ganancioso e aviltante da mente humana, me enchi de um pessimismo sem forças, subitamente envergonhado por fazer parte de uma espécie tão capaz mas ao mesmo tempo tão cega, tão autodestrutiva.

Será que ninguém vê que estamos caminhando a passos largos, sim, mas na direção errada? Evoluímos, sim, mas deixamos pra trás uma quantidade absurda de pessoas completamente à margem de qualquer progresso: segundo dados da ONU, a falta de alimentos mata uma criança a cada cinco segundos no mundo. Em 2009, o número de pessoas que passam fome no planeta chegou a 1,02 bilhões – um recorde desde 1970. E por aí vai.

Não sei em que pé estará este mundo daqui a 500, mil, dez mil anos, ou mesmo se daqui pra lá já não teremos minado todo este globo que tanto recurso nos dá.

Mas torço pra que, de toda essa triste imagem que o homem tem deixado de herança para as futuras gerações, alguém lembre que, apesar de tanta ganância, havia um país que, em 1948, jogou suas armas no chão e disse: não, não é essa a imagem que eu quero deixar pro mundo.


Frase do dia:
" Tudo o que é necessário para o triunfo do mal, é que os homens de bem nada façam."
Edmund Burke

Comentários

  1. Lucas,
    Não sei se conhece. Veja que LINDEZA esse vídeo
    "Você precisa de um exército primeiro, depois encontra o inimigo..." Salve Exupéry e o Pequeno Príncipe.

    http://www.youtube.com/watch?v=IOW2AUOfSLk&feature=related

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  2. Lucas, que ótimo texto.

    Eu não sabia desse fato e isso me lembrou a ideológica cidade jardim que tinha, como uma de suas características, o fato de não possuir, por exemplo, delegacias. Já que a renda seria igualmente distribuída e todos viveriam da mesma forma não haveria crimes. Enfim, essa entre outras características também.

    Pois bem, que bonito, honroso (entre tantos outros adjetivos) um país tomar essa atitude.

    Que triste e contraditório que é essa “guerra pela paz”.

    Beijo,

    Larissa.

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