Dia das crianças

O dia das crianças tá chegando. Não que eu ache a data importante, claro que não. Vejo simplesmente como mais uma que o comércio criou pra gente ir lá e comprar, comprar e comprar – êta verbozinho pra não sair de moda.

Mas dá pra aproveitar o 12 de outubro e fazer uma crônica.

Um dia desses minha mãe disse que uma pessoa do trabalho dela estava juntando umas roupas pra fazer uma doação a alguma dessas louváveis instituições que ajudam crianças carentes. Minha mãe perguntou se servia roupa de adulto, ao que a sua colega respondeu que sim, claro que sim, afinal, filhos carentes quase sempre têm pais também carentes, que precisam igualmente de ajuda.

Então aceitei prontamente o pedido da dona Zuleide e lá fui eu fazer uma limpa no meu guarda-roupa. Sou um cara extremamente apegado às coisas (o que não faz de mim uma pessoa consumista, são características bem distintas). Quero dizer apegado no sentido de que não gosto de me livrar de certos pertences: uma medalha ganha no campeonato de futebol da sétima série (putz, como eu joguei naquele campeonato!), uma camisa velha, um cartão-postal antigo e outras inutilidades às quais a gente, sabe-se lá por que, se afeiçoa. Pois é, dado esse meu apego material, imagine como foi difícil, ainda que por uma causa nobre, me livrar de grande parte do meu vestuário. E disse grande parte porque, exatamente pra evitar que minha afeição por algumas vestimentas falasse mais alto, me impus uma condição: qualquer peça que eu não vestisse já há alguns meses seria sumariamente selecionada para a doação. Sem chororô.

E assim fiz. Ao final, duas coisas me saltaram à vista: o gigantesco amontoado de roupas que seriam doadas (quase todas em ótimo estado de conservação) e o triste estado em que ficou meu guarda-roupa, tanto que nessa semana tive de ir comprar algumas peças de reposição.

Sei que é quase impossível para um pai ou uma mãe convencer um filho pequeno de que o dia das crianças não passa de uma "invenção capitalista só pra manter o consumo em alta." Também já fui criança e admito que esse papo tampouco me convenceria a não receber o tão esperado presente no dia 12.

Mas acho que não custa nada ao papai ou à mamãe falar com o pequeno (ok, depois de presenteá-lo) pra ele dar uma limpa naquilo que já não usa mais, porque também existem milhares de outros pequenos que não receberam nada, nem no dia 12, nem no 11, nem no 13. Porque, no fim das contas, não custa nada fazer uma boa-ação de vez em quando.


Frase do dia:
"A fábrica do futuro terá apenas dois empregados: um homem e um cachorro. O homem estará lá para alimentar o cachorro; e o cahorro, para impedir que o homem toque no computador."
Warren Bennis

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