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Mostrando postagens de setembro, 2010

No alto dos últimos anos.

Se por aí, um dia, no alto de meus últimos anos, me perguntares se amigos eu tive, responderei que tive, sim senhor, nem que para isso tenha que passar o fim dos meus tempos a me remoer, a acertar as contas com a dura e triste verdade de que, como disse, tive, sim senhor, mas não me lembro, que porra, com o tempo é assim mesmo, vão se perdendo as cores, as formas, os detalhes, e as histórias vão se sumindo aos poucos, se diluindo em vagas e abstratas lembranças, de forma que, quando chega um certo dia, sem que você perceba e contra a sua vontade, só lhe restará uma resposta, aqui no caso se tive ou não tive amigos, e a minha, repito, será que tive, sim senhor, mesmo sabendo que a resposta não estará alicerçada pela vastidão de memórias que me fizeram responder com tanta convicção, pois essas memórias foram todas consumidas, sugadas por amizades verdadeiras como um fogo que consome toda a lenha, deixando somente as cinzas, cinzas de amizades verdadeiras, risos amigos, choros contidos, p...

Biografias perdidas.

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Vez por outra gosto de ler uma biografia, dessas de gente famosa, não necessariamente alguém que eu admire, simplesmente vou lá, escolho um desses personagens que ganharam fama e que quase da noite pro dia, como se fossem diferentes de você ou de mim, se viram na privilegiada condição de não só se esbaldar em vaidade com um livro cuja história pertence unicamente a ele, como ainda de poder cobrar para que nós, reles mortais, tenhamos o direito de saber o que foi que esse tal cidadão fez da sua bendita vida, como se nós tivéssemos alguma coisa a ver com isso. Pois é. Contradições à parte, vou lá e leio a história do camarada de cabo a rabo. Brincadeiras deixadas de lado, é claro que normalmente são histórias extremamente interessantes, envolventes, algumas com uma mistura de tragédia e comédia pra deixar qualquer um na dúvida entre rir ou chorar. Os caras de fato fizeram escolhas atípicas na vida e, talvez exatamente por isso, somando-se aí uma boa pitada de sorte, talento ou sabe-se lá...

Ao mesmo tempo.

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É dessa melancólica janela que me sopra um vento frio, que me gela o corpo mas me esquenta a alma, vento que traz ideias ainda disformes, desconexas, descoloridas, que ele coleta nos cantos por onde passa e me entrega aqui, por esse vão na parede, dando-me a missão de transformar em produto acabado esse monte de matéria-prima que ele juntou mundo afora. Vento insensível, chega sem dar boa noite e sai sem perguntar se preciso de ajuda, e aqui fico, muitas vezes a contragosto, sem saber por onde começar, pois vejo que, da minha janela pra lá, muita coisa aconteceu, e, devo lembrar, o vento, junto com todos esses fatos jogados na bancada, deixou somente um recado, dizendo que todos os acontecimentos se sucederam rigorosamente ao mesmo tempo. E, de tudo o que tenho à minha frente agora, o que mais me impressiona é exatamente o tal recado deixado, afirmando que tudo isso aconteceu simultaneamente. Como pode, tanta felicidade e tanta tristeza juntas, num mesmo mundo, ao mesmo tempo, parece a...

Na frente da escola.

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Todo dia eu tenho a sorte, pequena sorte, de passar em frente a uma escola. Parece bobagem, eu sei, mas, se dizem que é do fato simples, rotineiro, que se nasce uma crônica, eis aqui o meu. Paro no semáforo, na volta do trabalho, mais ou menos meio dia, sol quente, ligo o ar condicionado, mas não adianta, lembro que o carro passou horas no sol, o bafo que sai do ar condicionado ainda é quente, se ponho no mínimo, vai demorar pra esfriar, se coloco no máximo, parece que vou derreter. Deixo no máximo mesmo, pouco tempo já tá esfriando. Olho pra frente e vejo crianças atravessando a faixa de pedestre, indo em direção ao carro do pai ou da mãe, que espera do outro lado. Crianças bonitas, lindas. Lembro de mim, quando era pequeno. Saudade, muita saudade. Lembro dos meus amigos do colégio, quando crianças que nem eu, lembro que boa parte deles ainda são meus amigos, meus melhores amigos. Ainda bem. Fico imaginando quantos anos tem aquela menininha linda, que tá se despedindo de uma amiga e e...