Ela chegou aqui em casa ontem, e me bastou ler o nome do destinatário, escrito em letras tortuosas, garranchudas, típicas de quem está ainda tomando o jeito de pegar num lápis – pra adivinhar quem era o remetente daquela carta. Sim, uma carta, mais uma dessas coisas que o nosso mundo acabou por engolir sem nos perguntar se dispensávamos mesmo sua existência. Mas a missiva era de fato de quem eu imaginara: foi só olhar o outro lado do envelope e lá estava infantilmente grafado o nome completo do meu sobrinho Vinícius, que não mora por aqui e lamentavelmente só pode nos visitar uma vez ao ano. O destinatário, no entanto, não era eu, mas minha mãe, de modo que preferi manter o envelope lacrado e esperar que ela o abrisse quando chegasse do trabalho. Mesmo com o envelope fechado, porém, num desses momentos em que percebemos estar um pouco mais sensíveis, mas em que, talvez por estarmos sozinhos, podemos nos deixar guiar por essa passageira embora acentuada sensibilid...