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Mostrando postagens de maio, 2015

Mediocremente

Sentou-se à mesa certo de que havia algo necessário a dizer. Era escritor, de pouco talento é verdade, mas naquele dia não foi o ofício que o impeliu à folha em branco.  Conhecia bem a sensação, embora ela não lhe ocorresse com frequência. Era uma tristeza plácida, lenta como o mundo há de ter sido um dia, uma ideia vaga mas segura de que o mundo é ruim, mas não acaba. Tristeza feito goteira num balde: bate, demora... bate, demora... O balde se dá à vista, porém quem o imagina pleno? Pôs uma música a tocar. Era mesmo a velha sensação que o punha a redigir: bastaram os primeiros acordes e as lágrimas, como que harmonizadas com a cena que ali se desenhava, desceram sem apuro, duas ou três.  Coceira na mente. A expressão não era sua, claro, lera em algum livro certa vez. Escritor medíocre. Um engodo na garganta, empenhava-se em dar-lhe substância, em conferir-lhe um conteúdo menos nebuloso, buscava uma metáfora de efeito, um resto de latim que lhe servisse, dicionário...