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Mostrando postagens de janeiro, 2010

Invólucro de sentimestos.

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Passei a noite me revirando na cama, sendo atingido, creio que seja essa a palavra mesmo, atingido por vontades repentinas de escrever. Vinham-me à cabeça lampejos de poesia, frases inteiras e sentimentos muito bem descritos, eram sentenças que não sei como se formataram em minha mente, já que de próprio punho, em sã consciência, certamente não seria capaz de criá-las, como agora me dou conta. Tudo o que conseguiria trazer ao papel agora seriam rastros, abstrações, misturas insossas daquilo que me incomodou durante parte da noite, intercalando e roubando meu sono. Decidi então que não iria escrever hoje, pois sabia que, por melhor que fosse a escrita, não chegaria aos pés do que me invadiu durante a noite, ou, em outras palavras, independentemente do que sairia, o autor continuaria insatisfeito, intrigado por não ter chegado lá. Mas não consegui resistir. Voltando para casa, em meio aos vários carros que saíam do shopping , certamente famílias felizes depois de um domingo de compras, o...

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Palavras levemente pinceladas de sentimentalismo Ganham, em meus fragilizados pensamentos, Enorme peso Sim, elas pesam Fecho, então, os olhos, e as seguro Não consigo não as agarrar! Permaneço com elas, divago com elas Analisamo-nos reciprocamente Não há sequer um diálogo Dói Deveria desprender-me, mas não é possível Elas me beliscam E um Ai! surge no canto do olho Resiste em vão, e despenca em forma de lágrima... Tais palavras, então, esvaem-se Tornam-se mais uma vez solúveis Sei que voltarão, e doerá novamente Mas o que fazer? Pobres palavras, não têm culpa nenhuma. (13.07.2007. No velho caderno.)

Uma feliz sorte.

É engraçado, curioso, embora nem sejam essas as palavras que adjetivem precisamente o que quero expressar, mas me contentarei com elas, pois sei que com as palavras isso sucede rotineiramente, você buscar um adjetivo, ou um verbo, ou um advérbio, e ele não aparecer, ou vir, como se diz, à ponta da língua, mas teimar em não sair. Pois bem, como eu vinha dizendo, é engraçado, curioso como às vezes na vida você tem a feliz sorte de encontrar uma pessoa que lhe fez nos dois anos passados ver a vida de uma outra forma, sob um outro ângulo, como se ela, a vida, fosse uma moeda, e pudesse assim ser enxergada por dois lados, tão próximos e tão diferentes. É como se você estivesse caminhando por uma estrada que parecia só ter um sentido, uma via, e essa pessoa chegasse, segurasse a sua mão, e passasse a caminhar com você nesse rumo, mostrando aos poucos que a estrada não é, como você imaginava, o único local em que se pode caminhar, que você pode sair dessa tal estrada e buscar os caminhos ma...

Um barquinho, pra bem longe.

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Um barquinho, a dois. Pra bem longe, pra uma ilha bem bonita. Um barquinho à vela, de vela pequena mesmo, pois pressa não haveria. Uma voltinha, pra perto ou pra longe, conforme a vontade do vento e o aval dos deuses. O sol a nascer e nós a partirmos, cedinho ainda, a comtemplar aquele espetáculo de cores inéditas que só a natureza mesmo para proporcionar. Ou à tardinha, o sol despedindo-se ao passo que cumprimenta a lua cheia que já se chega. Lua de São Jorge, inspiradora dos poetas, parceira em noites insones e pano de fundo nas mais românticas noites de amor. Qualquer dos cenários engrandeceria o momento, a vela, o barquinho, a ilha, nós dois. Pra bem longe, se não for pedir demais. (04.12.2007. No velho caderno.)

Vida cheia, vida vazia.

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Sempre que vou ao sítio parece que deixo por lá um pedaço de mim. É como se esse pedaço ficasse impregnado nas plantas, na rede posta na varanda, no mar que fica ali próximo, na gente simples que por lá vive e em cada pedacinho do terreno vasto, com cheiro de mato. Deve ser por isso que quando volto à cidade, normalmente num domingo de sol ardente, passo horas meio melancólico, meio triste até mesmo, agora percebo que só pode ser por isso, quando retorno à vida corrida, de tempos curtos, sonos leves, sem canções de grilo à noite, sem canto de passarinho de manhã, sem o carinho dos cachorros, nem céu estrelado, nem uma cerveja gelada na sombra do pé de tamarindo, quando retorno a essa vida corrida, como eu vinha dizendo, deixo uma parte de mim por lá, deixo uma saudade gostosa que só me faz querer voltar um dia, e que esse dia não tarde. Passo as horas seguintes à saída desse querido lugar tentando tapar o mais rápido possível os pequenos vazios deixados por essa saudade. Mas tenho uma ...