Vida
Nesta semana, no que deveria ser mais um insosso dia de aula na faculdade, fiquei sabendo de algo que me pegou absolutamente desprevenido. Um aluno do curso se suicidou. Como? Não sei. Por quê? Não sei. Não sei e nem fui atrás de saber, pois, como diria Saramago, "(...) morreu, simplesmente, não importa de quê, perguntar de quê morreu alguém é estúpido, com o tempo a causa esquece, só uma palavra fica, Morreu (...)"
Mas antes que, hipocritamente, possa parecer que vim aqui chorar a perda de um colega, de uma ótima pessoa que deixou o mundo, tecendo aqueles conhecidos comentários post mortem, deixemos bem claro: esse não é o tema da crônica. Ele não era meu colega, nem seu nome eu sabia. Só o conhecia de vista, quando nos cruzávamos pelos corredores, de modo que essas tradicionais lágrimas não são minhas, não me pertencem. O que me tocou realmente foi o fato de um cara de mais ou menos vinte e dois anos, mesmo com angústias - será que tão diferentes das minhas? -, ter posto repentinamente um fim à sua vida. Um ponto final em sua (breve) trajetória. Quando me disseram a triste notícia, subitamente me veio à cabeça a imagem que vez por outra tenho da morte: uma vela que - por um vento um pouco mais forte, uma gota besta de chuva - se apaga. O que o moveu a esse ponto, as causas que o levaram a esse único e irremediável efeito? São perguntas que, como tantas outras, entram no rol das mais complexas, intrigantes, enteiadas aflições humanas.
Lamento muito: alguém que cruzava toda noite os mesmos corredores que eu... partiu. Parou no tempo, deixando-me, hoje, a satisfação de perceber que a vida, que é amarga porém nova, transitória; tende a ser mais interessante que a morte, que é fria e derradeira.
Frase do dia:
Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável. Aquilo que é marca de nosso estranho destino sobre a terra. Aquele fato sem explicação, que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenado. Porque tudo o que é vivo... morre.
Ariano Suassuna
Mas antes que, hipocritamente, possa parecer que vim aqui chorar a perda de um colega, de uma ótima pessoa que deixou o mundo, tecendo aqueles conhecidos comentários post mortem, deixemos bem claro: esse não é o tema da crônica. Ele não era meu colega, nem seu nome eu sabia. Só o conhecia de vista, quando nos cruzávamos pelos corredores, de modo que essas tradicionais lágrimas não são minhas, não me pertencem. O que me tocou realmente foi o fato de um cara de mais ou menos vinte e dois anos, mesmo com angústias - será que tão diferentes das minhas? -, ter posto repentinamente um fim à sua vida. Um ponto final em sua (breve) trajetória. Quando me disseram a triste notícia, subitamente me veio à cabeça a imagem que vez por outra tenho da morte: uma vela que - por um vento um pouco mais forte, uma gota besta de chuva - se apaga. O que o moveu a esse ponto, as causas que o levaram a esse único e irremediável efeito? São perguntas que, como tantas outras, entram no rol das mais complexas, intrigantes, enteiadas aflições humanas.
Lamento muito: alguém que cruzava toda noite os mesmos corredores que eu... partiu. Parou no tempo, deixando-me, hoje, a satisfação de perceber que a vida, que é amarga porém nova, transitória; tende a ser mais interessante que a morte, que é fria e derradeira.
Frase do dia:
Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável. Aquilo que é marca de nosso estranho destino sobre a terra. Aquele fato sem explicação, que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenado. Porque tudo o que é vivo... morre.
Ariano Suassuna
Que lindo maluquete! Não abro mão de sua ida logo para a literatura, sempre achei que era seu lugar. Agora o encontrei! Avante! Beijão
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