Aqui tem!
Sou super-receptivo a opiniões contrárias às minhas. Exageradamente, até.
Quando alguém fala algo de que discordo, tento me colocar no lugar da pessoa, ver o tal outro lado da moeda, me perguntar se eu é que não estou me permitindo mudar de opinião... Enfim, faço de tudo pra tentar absorver aquilo que a pessoa está me dizendo, por mais que a opinião dela bata de frente com a minha.
Pois bem, mas tem coisa que até hoje eu não consigo engolir. Posso até ficar calado - o que aliás é bastante possível -, mas concordar, ah, isso não. Estou falando de neguinho - calma, caro leitor; a palavra neguinho não carrega aqui preconceito nenhum; trata-se apenas do pronome mais popular de nossa língua, só isso - que, se o assunto é Brasil, só faz colocar nosso país pra baixo. Porque tudo aqui é uma vergonha, nada presta, nada funciona, todo político é ladrão e esse blá-blá-blá que infelizmente, eu sei, não foi difundido à toa.
Poxa, cara, tudo bem - quer dizer, tudo bem, nada! - que temos infinitos problemas diariamente requentados na capa de nossos jornais. Tudo bem que cidades como Madri, Milão, Paris, ou mesmo, pra não ir muito longe, Buenos Aires, Montevidéu escancaram países muito à nossa frente em termos de transporte, educação, respeito ao pedestre e tudo o mais. Porém, não abro mão desta toada: nosso país tem muita coisa boa, sim. Muita gente que leva uma vida duríssima e ainda assim consegue sorrir abertamente. Muita praia paradisíaca. Muita cidade espetacular. Muito sol pra aquecer nossas almas e não deixar morrer nossos sonhos. Muito céu azul. Muita gente do bem que trabalha por um futuro melhor. Temos muito, e devíamos enaltecer isso também. É nosso.
Mas, como de costume, não escolhi falar sobre isso assim, aleatoriamente. Ou seja, esta crônica, como de praxe, foi motivada. E o motivo é um livro chamado "Aqui tem!", escrito pelo ex-tenista Fernando Meligeni e pelo jornalista André Kfouri, relatando memórias e vitórias desse belíssimo ex-atleta de nosso país.
O que o livro tem a ver com o tema da crônica? Fernando Meligeni (eu também não sabia disto até ler a história) nasceu na Argentina, é de família inteira portenha e teve todas as chances do mundo de manter a sua nacionalidade. Ele viveu em Buenos Aires até seus quatro anos, quando veio morar no Brasil por conta do trabalho dos pais. Aos quinze, voltou pra morar na Argentina, longe da família (que continuou no Brasil) e em prol de seu sonho: se profissionalizar no esporte. Viveu na belíssima capital sul-americana até perto de seus 18 anos, quando decidiu voltar às nossas terras e também se naturalizar brasileiro. Aqui vale uma ressalva: o Fininho, como ficou carinhosamente conhecido, não optou por se naturalizar porque aqui teria um futuro profissional mais atraente e esse tipo de coisa que vemos bastante nos esportes. Nada disso. Ele fez essa escolha simplesmente porque se sentia mais brasileiro que argentino. Tinha mais orgulho da terra de Pelé que da de Maradona.
Tanto que, na Olimpíada de Atlanta, em 1996, depois de vencer uma partida duríssima nas quartas-de-final e, portanto, chegar pra entrevista coletiva esperando perguntas que enaltecessem a vitória brasileira, mandou esta bela resposta a um repórter: "Você não tem vergonha de fazer essa pergunta para um cara que escolheu o Brasil? Um cara que se naturalizou para poder representar o Brasil e está aqui dando o sangue para fazer o melhor? Vou dizer uma coisa: eu sou mais brasileiro do que todos vocês. Sabe qual é a diferença entre nós? Vocês nasceram no Brasil, não tiveram escolha. Eu tive. Eu decidi ser brasileiro. Parece que vocês gostam de jogar o país para baixo ao dizer que teve de aparecer um argentino para ser número 1 do Brasil."
Boa, Fininho. Aqui tem!
Frase do dia:
"E tenho satisfação de, apesar de nunca ter passado pela minha cabeça fazê-lo, ter dado ao Brasil (...) meu próprio filho, em retribuição a todo o bem que recebi desta bendita terra."
Osvaldo Meligeni, pai de Fernando Meligeni, referindo-se à naturalização de seu filho, que nasceu na Argentina e decidiu se tornar brasileiro.
Esse realmente é brasileiro,muito mais que muitos nascidos aqui!!!parabéns meligeni.
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