Jogo de cena

Duas cadeiras num palco de teatro completamente vazio. Numa, está sentado o diretor do filme, na outra, alguma mulher, obrigatoriamente. E em frente ao cineasta sentam-se cidadãs dos mais diversos tipos: gordas, velhas, magras, jovens, feias, bonitas, brancas, homossexuais, negras – mas todas marcadas por situações de vida pra lá de interessantes e, exatamente onde entra a sensibilidade de Coutinho, também pra lá de comuns mundo afora: relações conturbadas com maridos ou com filhos, gravidezes, traições, perdas, sofrimentos. Tudo muito humano. Então, intercalando as falas dessas mulheres que se dispuseram a se expor da forma mais franca possível, vêm as atrizes, as quais, igualmente sentadas de frente ao diretor, repetem as falas de alguma daquelas reais batalhadoras. Interpretam algo verdadeiro, e que é posto cruamente em contraste com suas atuações. A seguir, as atrizes conversam com o diretor sobre as dificuldades de se interpretar algo tão natural. Inclusive li em algum lugar, não lembro onde, a Andréa Beltrão (ou era a Fernanda Torres?, putz, também não lembro) dizendo o quão enriquecedor foi, para ela, fazer este filme, e que num dado momento ela até se perguntava se estava falando dela mesma ou atuando de fato. A propósito, além dessas duas talentosas atrizes, trabalham no filme Marília Pêra e várias outras mulheres mais desconhecidas do grande público. Num certo ponto, você fica até em dúvida entre quem é atriz e quem viveu mesmo aquilo.
De qualquer forma, Eduardo Coutinho, com uma proposta simples, nos mostra um filme belo, de sensibilidade apurada. Se não viu ainda e ficou curioso, deixo ainda uma outra dica: deixe um lenço por perto, talvez seja útil.
Frase do dia:
"Os escritores podem ser divididos entre aqueles que usam a leveza da palavra e aqueles que usam o peso da palavra."
Italo Calvino
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