Um lápis
Foi numa dessas tardes amenas, céu azul aberto quase sem nuvens, sol brando que em nada incomodava, antes suavizava – era um dia assim, como outro qualquer. Um dia tão bobo, que me dei conta de que precisava comprar um lápis, se é que ainda há lápis neste mundo moderno repleto de notebooks , iphones , ipads e outras parafernálias que felizmente desconheço: um mundo que já não nos permite ver a letra do outro, um mundo para o qual temos todos a mesma caligrafia, fria e imparcial. Como esta com que escrevo agora. Aos poucos, durante aquela tarde serena que certamente me deixou mais sensível, fui sendo tomado por uma vontade tola: eu queria comprar um lápis. Já não seria feliz enquanto não me apossasse desse objeto simples, de vida pacata mas espírito radiante: em meio a nós que o ignoramos, um lápis ainda é capaz de projetar os sonhos mais lindos, e essa possibilidade de repente me encheu a alma, eu precisava de um lápis urgentemente, queria naquela tarde escrever um mundo novo...