O tempo.



Fim de ano, e as luzes pro Natal começam a se acender mais uma vez, cidade afora. Junto com elas a lembrança impactante de que, meu Deus, o ano mal começou, já acabou. Ainda me lembro do Natal passado, do Réveillon passado, e poxa, os enfeites natalinos surpreendentemente já pipocam novamente por aí, obrigando-me a aceitar o fato de que, dessas lembranças pra cá, já se passou quase um ano, ou 12 meses, ou 365 dias, como preferir. Posso estar ficando velho e caindo no mesmo clichê que ouvia de meus pais quando eu era criança, quando diziam bestamente que "o tempo está passando rápido demais" Hoje, porém, não tenho argumentos para discordar deles, e por mais sem sensibilidade, sem poesia, que seja uma frase clichê como essa, só me resta assinar embaixo e concordar, incrédulo: o tempo voa.

Voa e voa a cada minutinho passado pra trás durante o dia. Durante um dia, um diazinho, um dia qualquer. O engraçado é que nós às vezes, atabalhoados na correria do dia-a-dia, perdemos um pouco a sensibilidade em relação ao tempo, e passamos a achar que só ficamos mais velhos, efetivamente, em um único dia do ano: no dia do nosso aniversário. Você passa o ano inteiro acordando diariamente quase à mesma hora, indo basicamente para os mesmos locais durante a semana, vendo quase sempre as mesmas pessoas, estudando, trabalhando, farreando, levando sol na cara, pegando resfriado, tossindo, namorando, jantando, viajando, indo pra praia, torcendo pelo seu time, programando seu futuro profissional, cuidando de falano, ligando pra beltrano, fazendo o que gosta, o que não gosta, enfim, fazendo de tudo!, sem sentir durante esse período, no entanto, o peso do tempo que voa e que esmaga a todos nós, imperceptível mas diariamente.

E aí, somente naquele belo dia do seu aniversário, é que você se olha no espelho para, enfim, sentir-se de fato mais velho, pra cair na real de que envelheceu um ano. A pessoa passa quase 12 meses achando que tem (sempre) 25 anos; então, só no dia de seu aniversário, dá aquele estalo que a obriga a dizer que, agora sim, o tempo passou e ela tem 26, como se nos outros 364 dias não tivesse envelhecido, como se o tempo tivesse parado e esperado pacientemente até o dia e mês de seu nascimento para lhe lembrar de que, ei, hoje você ficou mais velho. Quanta ingenuidade de nossa parte.

Eu, nas últimas semanas, tenho pensado que, na verdade, hoje talvez tenha completado aniversário aquele dia em que eu me vi apaixonado pela primeira vez, ainda criança. Ontem pode ter feito aniversário aquele dia em que eu chorei de tanto rir, se é que alguma vez isso aconteceu. Amanhã pode ser que faça mais um ano daquele dia em que, num acidente de carro, o perito disse a meu pai que não sabia explicar como eu saíra ileso. Aniversários - isso que nos torna mais velhos -, portanto, nós completamos a cada dia, sem nos dar conta. Aquele dia em que a gente nasceu, embora importante simbolicamente, acho que é o de menos. Neste ano, por sinal, não quero vela nem bolo. Olho pro ano que passou e não consigo bater palmas. Se é de comemorar, gostaria de festejar o aniversário daquele dia... em que fui feliz. Mas que pena, não o anotei no calendário.


Frase do dia:
"O artista que não se analisa e não destrói continuamente as suas técnicas é um pobre diabo."
Cesare Pavese

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