Nossa Fortaleza
Será que ninguém vê?
Nossa cidade está morrendo e avisa isso todo dia, em cada esquina, em qualquer bairro, a qualquer hora. Nossa linda – ou que ao menos foi linda um dia – Fortaleza está pálida, como uma mulher que outrora foi bela, mas que hoje vive deprimida num quarto escuro por onde mal entra a luz do sol, de modo que quem a conheceu há vinte anos e resolve fazer-lhe uma visita, sai desse quarto entristecido, sem saber como pode uma mulher de tão singular beleza, de tão calorosa hospitalidade, definhar a olhos tão vistos.
Está amarga, a nossa Terra do Sol. Mas a culpa não é dela, é nossa. Nós amargâmo-la, enchêmo-la de carros e placas e prédios e empreendimentos, sem perguntarmos se era isso o que ela queria – tratâmo-la como uma velha senhora que não tem mais condições de responder por si e assim tem seu destino jogado na mão de uns poucos e ingratos homens, os quais já não lembram que foi essa mesma senhora que os criou por toda a vida.
A nossa Fortaleza, de nome tão forte e imponente, até tenta gritar pedindo socorro, mas seu grito já não se faz tão audível, e rapidamente é engolido pelo som perfurante de buzinas e mais buzinas.
A cada casa que é derrubada e em cujo espaço é erguido um novo e moderno prédio, nossa cidade morre um tantinho mais – somos nós atirando no peito de nossa própria mãe, em nome do progresso(?), da indústria(?), do avanço(?).
Não é privilégio de Fortaleza, eu sei, e tampouco ouso dizer que o motivo único é quem está no poder. O ponto é que não só a nossa, mas todas as ditas grandes cidades foram, me parece, infantilmente ludibriadas, e agora, sem saber, a cada passo que dão em direção ao prometido progresso, caminham, na verdade, pra mais perto de uma morte estúpida, um ignorado suicídio.
Até onde vai o progresso? A troco de que, o tal progresso? E esse trânsito infernal, e essa gente cada vez mais impaciente e sem gentileza, e esse clima cada dia mais abafado, e essa barulheira de obra e de carros e de... e de... progresso?
Onde está a qualidade de vida que nos acenava o sorridente século XXI?
Algo está errado com nossa cidade, com o mundo. Tanto que nas madrugadas, únicos momentos de silêncio que ainda nos resta, pode-se ouvir nossa Fortaleza chorando, chorando baixinho – é de doer a alma.
Frase do dia:
"(...) e que a esperança sempre foi uma das forças dominantes das revoluções e das insurreições, e eu ainda sinto a esperança como minha concepção de futuro (...)"
Jean Paul Sartre
Nossa cidade está morrendo e avisa isso todo dia, em cada esquina, em qualquer bairro, a qualquer hora. Nossa linda – ou que ao menos foi linda um dia – Fortaleza está pálida, como uma mulher que outrora foi bela, mas que hoje vive deprimida num quarto escuro por onde mal entra a luz do sol, de modo que quem a conheceu há vinte anos e resolve fazer-lhe uma visita, sai desse quarto entristecido, sem saber como pode uma mulher de tão singular beleza, de tão calorosa hospitalidade, definhar a olhos tão vistos.
Está amarga, a nossa Terra do Sol. Mas a culpa não é dela, é nossa. Nós amargâmo-la, enchêmo-la de carros e placas e prédios e empreendimentos, sem perguntarmos se era isso o que ela queria – tratâmo-la como uma velha senhora que não tem mais condições de responder por si e assim tem seu destino jogado na mão de uns poucos e ingratos homens, os quais já não lembram que foi essa mesma senhora que os criou por toda a vida.
A nossa Fortaleza, de nome tão forte e imponente, até tenta gritar pedindo socorro, mas seu grito já não se faz tão audível, e rapidamente é engolido pelo som perfurante de buzinas e mais buzinas.
A cada casa que é derrubada e em cujo espaço é erguido um novo e moderno prédio, nossa cidade morre um tantinho mais – somos nós atirando no peito de nossa própria mãe, em nome do progresso(?), da indústria(?), do avanço(?).
Não é privilégio de Fortaleza, eu sei, e tampouco ouso dizer que o motivo único é quem está no poder. O ponto é que não só a nossa, mas todas as ditas grandes cidades foram, me parece, infantilmente ludibriadas, e agora, sem saber, a cada passo que dão em direção ao prometido progresso, caminham, na verdade, pra mais perto de uma morte estúpida, um ignorado suicídio.
Até onde vai o progresso? A troco de que, o tal progresso? E esse trânsito infernal, e essa gente cada vez mais impaciente e sem gentileza, e esse clima cada dia mais abafado, e essa barulheira de obra e de carros e de... e de... progresso?
Onde está a qualidade de vida que nos acenava o sorridente século XXI?
Algo está errado com nossa cidade, com o mundo. Tanto que nas madrugadas, únicos momentos de silêncio que ainda nos resta, pode-se ouvir nossa Fortaleza chorando, chorando baixinho – é de doer a alma.
Frase do dia:
"(...) e que a esperança sempre foi uma das forças dominantes das revoluções e das insurreições, e eu ainda sinto a esperança como minha concepção de futuro (...)"
Jean Paul Sartre
O triste é essa ideia gritada a toda hora que para haver progresso tem que haver destruição do patrimônio, da história.
ResponderExcluirAssim criamos uma cidade que vive apenas da nostalgia de um dia já ter sido bela, de um dia seus moradores terem caminhado tranquilamente pelas ruas sombreadas, com calçadas, em silêncio e em paz.
Copiamos, exaustivamente, modelos padronizados de “grandes centros”. É o ciclo vicioso do demolir para construir, criando uma cidade cada vez mais sem identidade, sem passado, sem presente (uma vez que esta sempre em construção) e com grandes dúvidas em relação ao futuro.
É triste, é muito triste.
Beijo.
Lucas, estou aqui lendo suas crônicas e não consigo parar, uma atrás da outra. Essa da Fortaleza me trouxe (ou me levou) ao limite das lágrimas. Menino, você é demais!
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