Mais conexão - consigo
Facebook, Twitter, MSN, email, iPhone, iPod, iPad: você também não sente
falta, às vezes, só às vezes, de um mundo menos conectado?
Não vou discutir aqui os inúmeros benefícios que essas modernidades nos trouxeram, como a comunicação em tempo real e gratuita entre pessoas que vivem a milhares de quilômetros de distância, a incrível velocidade com que as notícias rodam o mundo, a facilidade pra se fazer uma pesquisa sobre qualquer tema ou mesmo a simplicidade que hoje existe pra se descobrir onde anda um velho amigo que desde a infância você não vê. Isso tudo (e muito mais) é absolutamente incrível, embasbacante, sensacional.
Mas vez por outra, com certa raridade até, sinto falta de uma vida menos interligada, menos pública, menos... disponível, como diria o status das redes sociais. Porque estar só é, sim, um momento enriquecedor para o ser humano: é a hora de olhar pra si, de estar não sozinho, mas consigo. Estou lendo agora mais um livro do experiente navegador Amyr Klink, Paratii entre dois polos. Mais uma vez, tal qual sua outra esplêndida viagem descrita no livro Cem dias entre céu e mar - ainda que esta primeira obra seja bem melhor que o Paratii, a meu ver -, Amyr nos emociona, agora com o relato de uma jornada saindo do Rio de Janeiro, descendo à Artártica, subindo às geleiras do Polo Norte e, por fim, quase dois anos depois (!), retornando ao Brasil. Com um detalhe, palavras do próprio navegador: "Sozinho. Por quê? Não tenho a mais vaga ideia." Talvez, Amyr, seja porque estar só nos obriga a dialogar com nós mesmos, nos impele a conviver com nossas inseguranças, medos, fraquezas, e por isso a solidão é sempre difícil, mas engrandecedora.
Houve um tempo, aliás não muito distante, em que, quando uma pessoa ia morar em outro país (ou simplesmente em uma cidade um pouco mais longe), puxa vida, sabia-se que a distância existiria, que a saudade apertaria forte no fundo do peito. Hoje, no entanto, o cidadão pode ir morar do outro lado do planeta e ainda assim podemos vê-lo diariamente, ao vivo e a cores. As vantagens compensam, mas não consigo deixar de lamentar: criamos um mundo que acabou por mudar substancialmente o significado de uma palavra: saudade. Pois ter saudade hoje é absolutamente diferente da saudade sentida há 20 anos. Perdemos um pouco do glamour que existia no anonimato, na individualidade, na ausência. Publicamos nossas fotos em redes sociais, disponibilizamos nossas converas e pontos de vista pra todo o mundo ver e com isso podamos a imaginação dos outros, a qual há alguns anos conjecturava: onde será que anda Fulano?, com quem será que Sicrano está se relacionando?, onde será que Beltrano está morando? Hoje tudo isso é excessivamente fácil de descobrir. Cortamos um tantinho assim as asas de nossa imaginação.
Por isso penso que a individualidade, o anonimato às vezes são mais que bem-vindos. Não precisa voltar a viver escrevendo cartas e abdicar das redes sociais, afinal elas cumprem um papel muito, muito útil. Queria só lembrar que cultivar aquele momento seu, só seu, é de uma valia incomensurável. Duvida? Pergunte ao Amyr, que o homem sabe das coisas.
Frase do dia:
"(...) comemorei sentado, quieto, com a boca cheia, a minha maior conquista: partir. Ainda que minha viagem durasse apenas um único e mísero dia. Parti para minha mais longa travessia, e, mesmo que ela só durasse esse único dia, eu havia escapado do maior perigo de uma viagem, da forma mais terrível de naufrágio: não partir."
Amyr Klink
Não vou discutir aqui os inúmeros benefícios que essas modernidades nos trouxeram, como a comunicação em tempo real e gratuita entre pessoas que vivem a milhares de quilômetros de distância, a incrível velocidade com que as notícias rodam o mundo, a facilidade pra se fazer uma pesquisa sobre qualquer tema ou mesmo a simplicidade que hoje existe pra se descobrir onde anda um velho amigo que desde a infância você não vê. Isso tudo (e muito mais) é absolutamente incrível, embasbacante, sensacional.
Mas vez por outra, com certa raridade até, sinto falta de uma vida menos interligada, menos pública, menos... disponível, como diria o status das redes sociais. Porque estar só é, sim, um momento enriquecedor para o ser humano: é a hora de olhar pra si, de estar não sozinho, mas consigo. Estou lendo agora mais um livro do experiente navegador Amyr Klink, Paratii entre dois polos. Mais uma vez, tal qual sua outra esplêndida viagem descrita no livro Cem dias entre céu e mar - ainda que esta primeira obra seja bem melhor que o Paratii, a meu ver -, Amyr nos emociona, agora com o relato de uma jornada saindo do Rio de Janeiro, descendo à Artártica, subindo às geleiras do Polo Norte e, por fim, quase dois anos depois (!), retornando ao Brasil. Com um detalhe, palavras do próprio navegador: "Sozinho. Por quê? Não tenho a mais vaga ideia." Talvez, Amyr, seja porque estar só nos obriga a dialogar com nós mesmos, nos impele a conviver com nossas inseguranças, medos, fraquezas, e por isso a solidão é sempre difícil, mas engrandecedora.
Houve um tempo, aliás não muito distante, em que, quando uma pessoa ia morar em outro país (ou simplesmente em uma cidade um pouco mais longe), puxa vida, sabia-se que a distância existiria, que a saudade apertaria forte no fundo do peito. Hoje, no entanto, o cidadão pode ir morar do outro lado do planeta e ainda assim podemos vê-lo diariamente, ao vivo e a cores. As vantagens compensam, mas não consigo deixar de lamentar: criamos um mundo que acabou por mudar substancialmente o significado de uma palavra: saudade. Pois ter saudade hoje é absolutamente diferente da saudade sentida há 20 anos. Perdemos um pouco do glamour que existia no anonimato, na individualidade, na ausência. Publicamos nossas fotos em redes sociais, disponibilizamos nossas converas e pontos de vista pra todo o mundo ver e com isso podamos a imaginação dos outros, a qual há alguns anos conjecturava: onde será que anda Fulano?, com quem será que Sicrano está se relacionando?, onde será que Beltrano está morando? Hoje tudo isso é excessivamente fácil de descobrir. Cortamos um tantinho assim as asas de nossa imaginação.
Por isso penso que a individualidade, o anonimato às vezes são mais que bem-vindos. Não precisa voltar a viver escrevendo cartas e abdicar das redes sociais, afinal elas cumprem um papel muito, muito útil. Queria só lembrar que cultivar aquele momento seu, só seu, é de uma valia incomensurável. Duvida? Pergunte ao Amyr, que o homem sabe das coisas.
Frase do dia:
"(...) comemorei sentado, quieto, com a boca cheia, a minha maior conquista: partir. Ainda que minha viagem durasse apenas um único e mísero dia. Parti para minha mais longa travessia, e, mesmo que ela só durasse esse único dia, eu havia escapado do maior perigo de uma viagem, da forma mais terrível de naufrágio: não partir."
Amyr Klink
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