Sonhar pequeno também vale
Qual o seu sonho? O que te motiva a continuar aí, levantando
diariamente da cama, indo trabalhar, estudar, pegar o ônibus, levar o carro pra
consertar, fazer ligações, passar emails, rir, chorar, ter saudade, conversar
com um velho amigo, se apaixonar... Pare e pense: o que está por trás disso,
qual o combustível primeiro, essencial, que alimenta essa irrefreável
locomotiva que é a sua vida?
Se você acha que vou falar da importância de se ter um sonho
grandioso pra motivar a sua existência, e da necessidade de se lutar por ele
até conquistar o sucesso e o reconhecimento, a ponto de não ser só mais um neste
mundo tão competitivo – lamento desapontar, mas não foi disso que vim tratar. Autoajuda
nunca me apeteceu muito.
Eu queria falar dos outros sonhos, os pequenos, miúdos,
aqueles que, de tão singelos, nem como sonhos são classificados normalmente.
Às vezes sonho em ir
à praia só pra pisar a areia e ficar ali, sentindo-a quente sob meus pés enquanto
olho indeterminadamente aquele mar sempre tão grande – então vou lá e realizo.
Outras vezes sonho em ter uma noite de sono tranquila, de horas
ininterruptamente boas, sem horário pra acordar e com a sorte de poder passar
um tempão me espreguiçando e pensando na vida, pouco antes de tomar coragem e
levantar da cama – aí vou lá e consigo.
Não vou lhe propor aqui a realização daquela fantasia de
carro importado do ano, férias nas ilhas gregas com hospedagem em hotel de luxo
ou mesmo uma noite dormindo com a beldade da novela das nove. Esqueça.
A tarefa não é difícil, mas é extremamente incomum nessa
nossa insaciável sociedade: tente sonhar com aquilo que lhe faz bem, que lhe
torna uma pessoa mais feliz, plena, mas que seja algo facilmente alcançável pra
você. Se puder dar uma sugestão, aqui vou eu: ler um bom livro, emocionar-se
com um bom filme, rir de uma história cômica que aconteceu com um amigo seu ou
com você mesmo, comer o seu prato preferido, deitar ao lado da pessoa que você
ama. Se você não considera esses exemplos um sonho (ainda que facilmente
realizáveis), acho que é hora de pensar sobre o que é felicidade, sobre o que é
esse negócio de ser feliz.
Outro dia vi o Jack Johnson, aquele cantor norte-americano
que transpira serenidade, no programa Altas Horas. Num dado momento, uma menina
da plateia disse algo mais ou menos assim: "Eu queria saber qual o seu sonho
hoje em dia, porque você sempre disse que sonhava em compor músicas e tocá-las
pros seus amigos surfistas e seguir viajando com eles... Então o que você
almeja, hoje?" E ele disse algo assim: "Bom, pra falar a verdade, meu sonho é
esse, eu sonhava com isso, com bem menos que isso, aliás, então está tudo ótimo."
Achei a resposta tão simples quanto sábia.
Não quero aqui fazer voto de pobreza ou fomentar um mundo
que abdique daqueles sonhos cinematográficos, claro que não. Só queria lembrar
que o simples pode até parecer sinônimo do medíocre, mas olhe (e sonhe!) com
atenção, que verá: o simples é irmão do feliz, e um não consegue viver sem o
outro.
Frase do dia:
"Quem era aquela que te amou
no sonho, quando dormias?
Para onde vão as coisas do sonho?
Vão para o sonho dos outros?
E o pai que vive nos sonhos
volta a morrer quando despertas?
Florescem as plantas do sonho
e amadurecem seus frutos?"
Pablo Neruda
no sonho, quando dormias?
Para onde vão as coisas do sonho?
Vão para o sonho dos outros?
E o pai que vive nos sonhos
volta a morrer quando despertas?
Florescem as plantas do sonho
e amadurecem seus frutos?"
Pablo Neruda
“tente sonhar com aquilo que lhe faz bem, que lhe torna uma pessoa mais feliz, plena, mas que seja algo facilmente alcançável pra você. Se puder dar uma sugestão, aqui vou eu: ler um bom livro, emocionar-se com um bom filme, rir de uma história cômica que aconteceu com um amigo seu ou com você mesmo, comer o seu prato preferido, deitar ao lado da pessoa que você ama”.
ResponderExcluirIsso tudo me faz tão feliz, mas tão mesmo. Mas, se não for pedir demais, gostaria de acrescentar algumas poucas coisas que também me fazem feliz: sempre encontrar os amigos, lutar por meus direitos e pelos direitos alheios, comer pão com queijo e mel no café da manhã, deitar na cama dos meus pais e ficar horas e horas conversando amenidades com eles, viajar (pode ser para a cidade ao lado), tentar fazer, da melhor forma possível, o que faço da vida, chorar sempre que tenho vontade e rir da mesma forma, praia no final da tarde, dividir conhecimento, aprender com o próximo... e por aí vai.
Beijo,
Larissa.